Já abordei várias vezes o assunto , mas como ainda restam dúvidas, vou esclarecer. Alergia ao exercício existe, não é preguiça, nem desculpa para os sedentários e pode matar, no casos mais graves. A boa notícia é que é possível controlar.

O assunto voltou a tona pois o Daily Mail Online, publicou ontem (7) a  notícia de uma mulher britânica, Kasia Beaver, alérgica ao exercício. Assim que ela inicia uma atividade física intensa, seu rosto incha, coça, os olhos se fecham em 5 minutos e ela corre o risco de entrar em choque anafilático. Após anos de crises e inúmeras avaliações foi diagnosticada com uma doença rara chamada angioedema induzido por exercício.

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Entenda como acontece a alergia ao exercício

Embora o problema da britânica seja considerado raro, versões menos agressivas acontecem com certa frequência e são absolutamente ignoradas pelos Profissionais de Educação Física e ainda fazem a pessoa passar por preguiçosa.

O que aconteceu com Kasia Beaver é a mais grave das condições alérgicas, a anafilaxia. Um estudo feito pela ASBAI, Assossiação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, afirma que a prevalência da anafilaxia no Brasil é desconhecida, fica em torno de 0,05% e 2 %. E a anafilaxia induzida por exercício (caso da britânica) é responsável por 3% a 4% das anafilaxias.

O que é alergia

É uma resposta exagerada do sistema imunológico à uma substância considerada estranha pelo organismo. Qualquer pessoa pode ter alergia, mas o fator principal é a predisposição genética.

As pessoas com predisposição genética à alergia são chamados atópicos, elas reagem de maneira exagerada a fatores que normalmente pessoas que não tem essa predisposição sequer percebem. Por exemplo eu não posso ficar em ambientes que tenham gatos, pois fico com dificuldade para respirar, meu marido não tem nenhum problema.

As alergias podem aparecer em qualquer fase da vida, podem variar o tipo e também mudar a forma como aparecem. Voltando ao meu exemplo, até os 20 anos não tinha qualquer problema com os gatos, certo dia ao ter contato com o bichano fique com o rosto todo inchado e os olhos coçando. Por anos isso voltou a ocorrer, ano passado, aos 40, ao visitar amigos com gatos, o inchaço não veio, os olhos não coçaram, mas tive uma séria dificuldade para respirar (broncoespasmo) que me levou ao hospital.

Estima-se que de 10% à 20 % da população sofra com a doença alérgica. Com todas essas informações não é difícil pensar que a alergia ao exercício é bem mais frequente do que se pode imaginar.

Alergia ao exercício: sintomas

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O sintoma mais comum é o surgimento de vermelhidão e coceira em algumas partes do corpo como coxas, barriga e peito. A maioria das pessoas ignora o fato, achando que trata-se do simples aumento da circulação local, inclusive os Profissionais de Educação Física.

O aumento da circulação local pode deixar o corpo mais quente e causar um certo rubor, mas vermelhidão e coceira são reações alérgicas do organismo e devem ser tratadas com atenção.

Nos casos mais leves a vermelhidão e a coceira cessam poucos minutos após o término do exercício e com o passar do tempo e a adaptação ao exercício, os sintomas desaparecem. O que não significa que a alergia tenha acabado!!! Pode voltar a aparecer com novos estímulos ou combinados com fatores, como a inalação de odores de materiais de limpeza, ingestão de determinados alimentos ou medicamentos .

Nos casos mais graves podem ocorrer:

  • Sensação de calor,
  • Ruborização,
  • Coceira intensa e progressiva,
  • Urticária gigante (erupções na pele formadas por placas salientes, esbranquiçadas ou avermelhadas, que coçam muito),
  • Angioedema (inchaço, similar à urticária, mas que ocorre sob a pele e não na superfície),
  • Estridor laríngeo (som produzido pelo fluxo turbulento de ar através de uma via aérea parcialmente obstruída),
  • Edema de glote (garganta fechada),
  • Tonteira,
  • Síncope,
  • Alterações gastrointestinais (vômitos, cólicas abdominais e diarréia),
  • Broncoespasmo.

Diagnóstico e tratamento

O Profissional de Educação Física é a pessoa mais indicada para identificar o problema e por isso deve se informar a respeito, indico a leitura dos textos neste site e do capítulo “Alergias e Exercícios” do livro Atividade Física Adaptada e Saúde. A confirmação do diagnóstico pode ser feito, pelo médico alergista, com um teste em esteira, embora o resultado negativo não afaste a possibilidade da existência do problema.

Suspeitando que você sofra de alergia ao exercício procure um médico alergista que indicará o tratamento mais adequado que pode envolver o usos de medicamentos como broncodilatadores e a dessensibilização com exercícios escalonados, com duração e intensidade progressivas.

Se seu caso for grave tome alguns cuidados como não se exercitar em local de difícil acesso, não se exercitar sozinho, informar sempre ao professor sobre seu problema, ter sempre um celular por perto. Se fizer uso de epinefrina mantê-la sempre ao alcance e ensinar ao professor ou companheiro como usar.

Importante

O desconforto crônico causado na prática de exercícios pode ser um indicativo do problema. Por exemplo, pessoas que tentam treinar corrida e sentem-se sempre cansadas, como se não conseguissem se adaptar ao exercício, mesmo depois de anos. Essas pessoas podem ser acometidas por um broncoespasmo induzido pelo exercício (BIE), sentirem uma leve dificuldade para respirar e associar ao esforço ou à falta de condicionamento físico

Caso tenha alergia ao exercício e que seja necessário o uso de algum medicamento antialérgico, não retorne à atividade, mesmo se o sintoma desaparecer. O medicamento pode mascarar outros sintomas levando à um quadro muito mais grave.