Parece que vou iniciar uma adaptação das Crônicas de Nárnia, mas não é. A história que vou narrar aqui, embora tenha aparecido em uma obra de ficção da Rede Globo, a novela A Força do Querer, mostra um retrato do que acontece no mundo real.
Na trama da rede Globo, Ivana (atriz Carol Duarte) vai se revelar um trans homem e parte de processo passa pela aplicação de hormônio, que ela compra de forma ilegal, como acontece em muitos casos (a maioria talvez). No capítulo que foi ao ar ontem (26/08/2017) a personagem Ivana compra esse hormônio de um instrutor na academia e isso tem gerado uma verdadeira revolta entre os Profissionais de Educação Física. Manifestações de repúdio pipocam nas redes sociais, certamente vindas daqueles que vivem no mundo encantado da Educação Física.
O mundo encantado da Educação Física
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Profissionais de Educação Física (PEF) ficaram melindrados com a cena, afirmam que ela denigre a imagem do PEF, que a Rede Globo não poderia fazer isso e cobram uma posição do CREF. Mas a questão é mais profunda, eu diria que eles têm razão, e me juntaria à essa massa, se o retratado na novela A Força do Querer não acontecesse no mundo real. Mas acontece.
Todos os dias em dezenas, quem sabe centenas de academias pelo Brasil há Profissionais de Educação Física vendendo substâncias ilícitas (como hormônios) provavelmente com o objetivo de complementar a renda. Esse comercio ilegal vira e mexe é noticiado. Portanto não é uma invenção da teledramaturgia.
- Esse é o mundo real, o mundo no qual profissionais ruins são encontrados EM TODAS AS PROFISSÕES, inclusive na Educação Física, e obras de ficção como as novelas da Rede Globo, retratam isso.
Os que se revoltaram, com a cena do instrutor entregando hormônio para Ivana pensam o que? Que o mundo encantado da Educação Física existe e que todos que nele habitam são íntegros e prezam pela saúde do próximo?
Acordem! Ao invés de gritar, de espernear, usem o retratado na ficção a seu favor, a favor da sociedade e para alertar seus alunos.
E o CREF nessa história?
Em resposta ao e-mail enviado por um PEF , o CREF (não sei de qual região) se manifestou assim:
Prezado Senhor, bom dia.
Salientamos que no caso da dramaturgia, especialmente as telenovelas, a estória é obra autoral de ficção, não retratando a realidade.
De qualquer maneira, se quiser uma posição nesse caso ou alguma atitude, por se tratar de mídia de veiculação no âmbito nacional, orientamos entrar em contato diretamente com o CONFEF, e formalizar sua queixa através do e-mail [email protected]
No mundo encantado da Educação Física há uma crença de que o CREF tem a obrigação de resolver todos os problemas da área, que pagamos por isso e ponto final. Cada vez que acontece um caso como esse, ou uma blogueira fitness resolver dar um palpite furado, ou algo parecido, chovem reclamações e cruzam-se os braços na expectativa que resolvam o problema.
No mundo real o que deveria acontecer é um trabalho conjunto. O primeiro passo é entender qual é o objetivo primário do sistema CONFEF/CREFs que consta do Capítulo 1, artigo 1º, parágrafo 4º do ESTATUTO DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA – CONFEF:
“O Sistema CONFEF/CREFs regula, regulamenta, fiscaliza e orienta o exercício profissional, além de defender os interesses da sociedade em relação aos serviços prestados pelo Profissional de Educação Física e pelas pessoas jurídicas nas áreas de atividades físicas, desportivas e similares.”
O segundo passo é auxiliar o órgão denunciando o exercício ilegal da profissão, denunciando práticas que ferem o código de ética da profissão e instruindo as pessoas ao seu alcance, como seus alunos, a fazerem o mesmo. As denúncias podem ser feitas no CREF da sua região.
Então caberia uma nota de repúdio emitida pelo CONFEF sobre a cena da novela A Força do Querer? Sim, caberia. Aos CREFs, talvez, o CREF4 se manifestou. Mas qual a diferença que isso iria fazer? Na prática, nenhuma.
No entanto há algo que poderia ser bastante interessante, que colocaria um ponto final nessa polêmica.
CREF 1 e Rede Globo
A novela está em curso. O que vimos foi uma cena, na qual fica nítido que trata-se de um ato ilícito, reforçado na cena seguinte quando duas outras personagens comentam: “sem receita, só assim que dá pra comprar”. Logo depois os pais de Ivana vão saber do ocorrido, também. É nessa hora que poderia haver uma denúncia ao CREF 1 (Rio de Janeiro), feita por algum desse personagens, para mostrarem como as pessoas devem agir diante desse tipo de situação.
Melhor ainda, poderiam com essa denúncia autuar o instrutor pelo exercício ilegal da profissão, descobrindo que ele não é Profissional de Educação Física (o que acalmaria também os ânimos daqueles inconformados com o 3 de 10 que ele fala na cena!). E por fim a academia também, por permitir que uma pessoa sem a devida formação trabalhe no estabelecimento.
A cereja do bolo ficaria se a Rede Globo levasse isso ao ar no dia 1º de setembro, quando comemoramos o dia do Profissional de Educação Física. Se pensaram nisso ou não, realmente eu não sei, mas fica a dica.
Atitude dos Profissionais de Educação Física
De uns tempos pra cá tenho tido preguiça de me envolver em algumas discussões, nas redes sociais, realizadas por Profissionais de Educação Física que só reclamam. Reclamam dos baixos salários, reclamam dos patrões, reclamam do sindicato, reclamam do pagamento do CREF, dos critérios de fiscalização e da falta dela, reclamam das blogueiras fitness, reclamam de colegas que usam o marketing digital a seu favor, de colegas por discordarem da linha de trabalho deles e por aí vai uma longa lista de reclamações.
Felizmente existem aqueles (e não são poucos!) que olham para o copo com água pela metade e conseguem vê-lo meio cheio. Aqueles que vivem no mundo real, que passam por dificuldades, mas ao invés de reclamar vêem nelas oportunidades para crescer. Com esses faço questão de me envolver e de buscar melhores soluções para o crescimento, desenvolvimento e reconhecimento da Educação Física como uma profissão séria e necessária em prol de uma sociedade mais saudável e feliz.
Se você não assistiu, a acena é essa do vídeo abaixo.