Esse artigo faz uma breve reflexão sobre as competências empreendedoras e os fatores condicionantes de mortalidade e de perpetuidade das empresas no mundo dos negócios.
Historicamente, a vida média de uma empresa gira em torno de quarenta anos, de acordo com o holandês Arie de Geus, ex-vice-presidente da Royal Dutch Shell, mencionado no best seller de Peter Senge, A Quinta Disciplina. Portanto, se você trabalha numa empresa com idade superior a quarenta anos, pode sentir orgulho, pois existem grandes chances de ela ainda existir nos próximos quarenta anos.
Ainda segundo De Geus, milhares de empresas nascem e morrem todos os dias, pois se baseiam exclusivamente em políticas e práticas de gestão que levam em conta somente o pensamento e a linguagem econômica. Quantas empresas centenárias ou mesmo com mais de quarenta anos você conhece?
Parte delas morre cedo porque os empreendedores, e os profissionais por eles contratados, se orientam basicamente em números de produção, vendas e distribuição sem considerar o fato de que as empresas se assemelham a uma comunidade de seres humanos que fazem negócios para permanecerem vivas.
Em 2010, 58% das empresas de pequeno porte fecharam as portas antes de completar cinco anos. Em relação a 2009, este índice era de 62%. Entre os principais motivos alegados pelos empreendedores estão a falta de clientes (29%), a falta de capital (21%), a concorrência (5%), a burocracia e os impostos (7%).
De acordo com dados divulgados pelo SEBRAE, outros fatores influenciam no processo de mortalidade das MPEs (Micro e Pequenas Empresas), tais como: falta de planejamento, técnicas de marketing inconsistentes, falta de avaliação de custos e má administração do fluxo de caixa, entre outros.
Em geral, as chances de que a massa de trabalhadores formais de hoje vejam a empresa em que trabalham desaparecer ao longo de sua carreira profissional são amplas. E na maioria das empresas que desaparecem todos os dias, os indícios prévios da existência de problemas são ignorados pelos empreendedores, e também pelos colaboradores por eles contratados, mesmo quando se tem conhecimento dos problemas de gestão.
Por que você precisa saber de tudo isso? Em primeiro lugar, porque você tem amor próprio e, por certo, não criou nem trabalha para uma empresa que deseja quebrar nos próximos cinco anos. Você conhece alguma que deseja falir nos próximos anos? Em segundo lugar, para lembrar que força de vontade não é suficiente para manter um negócio saudável.
Por fim, vai ajudá-lo a entender que prosperidade e perpetuidade dependem de um tripé de competências que, quando aprendidas e aplicadas de maneira equilibrada, aumentam as chances de sucesso de o seu empreendimento prosperar.
Essas habilidades ou competências, de acordo com Robert Katz, professor norte-americano e pesquisador do comportamento organizacional, aumentam a confiança e a capacidade de liderança dos empreendedores (gestores) na condução das equipes e na forma de gerir os negócios. Vejamos:
- Habilidades Técnicas: a capacidade de aplicar conhecimentos ou habilidades específicas; diz respeito à formação e ao conhecimento do líder empreendedor e à sua expertise, ou seja, o que ele realmente sabe fazer.
- Habilidades Humanas: a capacidade de trabalhar com outras pessoas; diz respeito à sua habilidade de relacionamento interpessoal: saber motivar, ser bom ouvinte, saber formar equipes, saber se comunicar, enfim, saber lidar com gente.
- Habilidades Conceituais: a capacidade de analisar e diagnosticar situações complexas e, com base nelas, tomar decisões acertadas para a prosperidade do negócio.
Obviamente, outros fatores devem ser considerados para a perpetuidade do negócio, tais como: ambiente favorável para empreender; estímulo ou incentivo dos governos; modelo de negócio definido com base em tendências futuras e duradouras; disponibilidade de recursos para marketing; disposição para montar equipes de alto desempenho; estratégia convincente e duradoura; filosofia de trabalho baseada em princípios e valores sólidos, entre outros.
Quanto tempo vai durar sua empresa?
Em 1924, a Computing Tabulating Recording Company era somente uma das 100 empresas de médio porte tentando sobreviver nos Estados Unidos, segundo James Collins e Jerry I. Porras, autores do best seller Feitas para Durar. Já ouviu falar dela? A CTR comercializava basicamente relógios de ponto e balanças, empregava em torno de 50 vendedores com uma cota mensal de vendas a cumprir e alimentava uma perspectiva de futuro pouco promissora. Nada de estranho ou interessante até então.
Certo dia, quando Thomas Watson Sr. chegou em casa, abraçou a esposa e anunciou com orgulho que a CTR mudaria de nome e passaria a ser conhecida com o grandioso nome de International Business Machines, seu filho Thomas Watson Jr. ficou parado na porta da sala, pensando: aquela empresa pequenininha? Hoje não existe nada de estranho no nome International Business Machines, mas na época soava até ridículo, segundo os autores.
Três perguntas fundamentais foram utilizadas por Thomas Watson antes mesmo de a IBM se tornar uma empresa de sucesso. O tempo de duração da empresa para a qual você trabalha ou mesmo o da empresa que você pretende criar e transformar no maior desafio da sua vida vai depender de uma resposta clara e consistente para as questões mencionadas pelo fundador da IBM, uma empresa global e centenária que superou todos os desafios aos quais foi submetida desde a sua fundação. São elas:
- Existe uma visão clara de como será a empresa quando estiver pronta? Quem não sabe para onde vai, qualquer lugar serve, diz um antigo provérbio chinês. Um negócio duradouro requer pensamento estratégico, espírito empreendedor e adoção de modelos mentais positivos indestrutíveis.
- Como a empresa precisa agir para se tornar um negócio de sucesso? Todo sonho planejado tem mais chances de se tornar realidade. Empreendimentos lucrativos dependem de estratégias convincentes, modelos de gestão consistentes, profissionais competentes e equipes altamente comprometidas com os resultados.
- Se a empresa sabe como agir desde o princípio para alcançar a visão de futuro, então, por que não começa imediatamente? Se o empreendedor tem consciência do que é necessário fazer para prosperar nos negócios, o que o impede de “virar a própria mesa”, procurar ajuda e começar a agir? Orgulho e egoísmo são amigos inseparáveis que caminham ao seu lado, silentes, enquanto sua empresa vai de mal a pior.
Empreender é uma atividade estimulante em qualquer lugar do mundo. Pode ser também uma atividade recompensadora, entretanto, não existe lugar para amadorismo quando se trata de negócios. Criar uma empresa é fácil, mas, transformá-la num negócio de sucesso duradouro é um desafio que somente as pessoas determinadas, fortes de espírito e ousadas são capazes de compreender e assumir.
Por: Jerônimo Mendes – Administrador, Coach, Escritor e Palestrante. Graduado em Administração de Empresas, Pós-graduado em Logística Empresarial, Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local.