A perda de memória pode ter várias causas que envolvem algumas condições médicas e o estress. O diagnóstico passa por avaliação médica e exames e o tratamento pode incluir o uso de medicamentos e a realização de terapias. O que muitas pessoas não sabem é que a prática regular de exercícios, também, pode ser preventiva para a perda de memória.
De acordo com a Dra. Mirella Fazzito, neurologista da Clínica Araújo e Fazzito, a falha súbita na memória pode ser decorrente de vários fatores que incluem algumas doenças neurológicas bem como problemas emocionais, estresse e traumas psicológicos.
Causas da perda de memória
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Segundo a doutora, o uso de algumas substâncias tóxicas, como álcool e drogas e os distúrbios do sono também podem afetar a memória e concentração. “A perda de memória, seja repentina ou progressiva, pode ter um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas. É muito importante procurar atendimento médico, se você ou alguém que você conhece tiver qualquer dificuldade de memória. A presença de sintomas associados como dor de cabeça persistente, fraqueza, confusão ou mudanças súbitas de comportamento são sinais de alerta para a necessidade de investigação e acompanhamento, comenta a especialista.
Alterações hormonais como os que ocorrem por ocasião da menopausa também podem causar perda de memória. Recentemente tivemos inúmeros relatos de perda de memória como sequela da COVID-19. Embora doenças como o Alzheimer e a Demência assustem, na maioria das vezes a perda da memória tem outras causas, principalmente em pessoas com menos de 65 anos.
- Acidente Vascular Cerebral (AVC). “ O AVC, seja causado por um bloqueio ou por um rompimento de um vaso sanguíneo no cérebro pode atingir áreas responsáveis pelo armazenamento, processamento ou recuperação de memórias”, explica a Dra.Mirella. A doença matou 109.560 pessoas no Brasil em 2023, segundo dados do portal da transparência da Associação de Registradores de Pessoas Naturais.
- Amnésia global transitória. Nesse tipo de amnésia os indivíduos se tornam incapazes de armazenar novas memórias ou de recordar eventos que aconteceram durante o episódio. É súbita e temporária, durando em média 24h. E apresenta melhora espontânea. O diagnóstico é principalmente clínico, mas exames laboratoriais e de imagem são feitos para excluir outras doenças
- Traumatismo Craniano, decorrente de lesões após acidentes, também podem prejudicar as funções cerebrais, incluindo a memória.
- Infecções cerebrais, como meningite ou encefalite que podem prejudicar a função cognitiva.
- Doenças Neurodegenerativas. Afetam áreas cerebrais responsáveis pelo armazenamento, aprendizado, formação e recuperação da memória. Geralmente se iniciam com a perda da memória recente, funções executivas e atenção e, geralmente, evoluem acometendo outros sistemas funcionais cognitivos. Alzheimer, demência vascular, demência por Corpos de Lewy, demência frontotemporal e a doença de Parkinson estão nesta lista. A perda da memória é variável e, na grande maioria dos casos, ocorre de maneira progressiva.
- Causas psicológicas e emocionais, podem causar sintomas físicos como taquicardia, falta de ar, dores de cabeça e até mesmo a perda de memória. “Situações de estresse agudo ou crônico podem interferir na capacidade do cérebro de processar e armazenar informações, resultando em lapsos de memória. O mesmo pode ocorrer com traumas emocionais muito significativos e até mesmo a depressão e a ansiedade”, complementa a Dra. Mirella.
- Covid longa. No cérebro, a spike do coronavírus é reconhecida por receptores TLR4 que, em resposta ao agente estranho, geram uma inflamação. Nesse momento, as células de defesa, na tentativa de combater as proteínas, destroem as sinapses dos neurônios, o que impede a transmissão de informações, gerando perdas de memória. Essa reação demora a acontecer e varia de pessoa para pessoa − não é na fase aguda da doença, mas sim tempos depois.
- Menopausa. A névoa cerebral é mais um dos muitos sintomas do climatério e da menopausa. É como são definidos os esquecimentos, a dificuldade de lembrar palavras e números, de se concentrar ou de alternar tarefas nesse período e pode ser minimizado com reposição hormonal.
Prevenção e tratamento da perda de memória
A prevenção da perda de memória pode ser feita, em alguns casos, com cuidados relacionados ao estilo de vida. Uma boa rotina de sono, alimentação saudável, exercícios físicos e cognitivos podem ser aliados.
Sobre a prática de exercícios físicos, além dos benefícios relacionados à diminuição da ansiedade e controle do estresse, que irão beneficiar na prevenção da perda de memória, há resultados de pesquisas muito interessantes relacionadas à doença de Alzheimer.
Os idosos que sofrem de fraqueza muscular têm um maior risco de desenvolverem doença de Alzheimer, segundo um estudo publicado nos “Archives of Neurology”¹.
Uma revisão de estudos publicada por pesquisadores das universidades Federal de São Paulo (Unifesp) e de São Paulo (USP) na “Frontiers in Neuroscience”², fornece evidências clínicas de que exercícios físicos resistidos são de fato benéficos para minimizar o déficit nas funções cognitivas e comportamentais causado pela doença de Alzheimer e podem ser propostos como terapia alternativa acessível.
“O exercício físico resistido se confirma cada vez mais como estratégia efetiva para evitar o surgimento dos sintomas de Alzheimer esporádica (não associada a uma mutação herdada), que é multifatorial e pode estar relacionada ao envelhecimento, ou para retardá-los nos casos da forma familiar da doença”, resume Beatriz Monteiro Longo, professora de neurofisiologia da Unifesp e coordenadora do trabalho. “A principal possível razão para isso é sua ação anti-inflamatória.”
Ou seja, quer prevenir/retardar o aparecimento da doença de Alzheimer, faça musculação, ou outro treinamento resistido que você goste.
O tratamento para a perda de memória deve ser feito, preferencialmente, por uma equipe multidisciplinar composta de médico neurologista, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e profissional de educação física.
Um diagnóstico precoce e tratamento adequado podem ajudar a minimizar os efeitos da perda de memória e melhorar a saúde, qualidade de vida e o bem-estar mental.
Referências
1- Boyle PA, Buchman AS, Wilson RS, Leurgans SE, Bennett DA. Association of muscle strength with the risk of Alzheimer disease and the rate of cognitive decline in community-dwelling older persons. Arch Neurol. 2009 Nov;66(11):1339-44. doi: 10.1001/archneurol.2009.240. PMID: 19901164; PMCID: PMC2838435.
2- AZEVEDO, CAROLINE VIEIRA ; HASHIGUCHI, DEBORA ; CAMPOS, HENRIQUE CORREIA ; CAMPOS, H. C. ; FIGUEIREDO, EMILLY V. ; OTAVIANO, STHEFANIE FERREIRA S. D. ; PENITENTE, ARLETE RITA ; ARIDA, RICARDO MARIO ; LONGO, BEATRIZ MONTEIRO . The effects of resistance exercise on cognitive function, amyloidogenesis, and neuroinflammation in Alzheimer?s disease. Frontiers in Neuroscience, v. 17, p. 10.3389/fnins.2, 2023.