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Gritaram meu nome. O que fiz de errado?

Lá estava ela no piso superior passando pela frente da escada, indo em direção à sala de musculação para fazer o apontamento das aulas do dia que estava terminando, quando foi chamada aos gritos, pela chefe, tremeu.

Em uma fração de segundos tudo o que fizera naquela semana, durante as aulas e também durante sua permanência no ambiente de trabalho para usufruir da academia passara pela sua cabeça. Olhou para si, o uniforme estava completo e limpo, os cabelos presos, o corpo um pouco suado pelas aulas dadas, mas sem odores ruins. Não conseguia encontrar explicação para aquela sensação.

Culpa e medo era o que sentia, tamanho foi o grito dado pelo seu nome, só podia ser culpada de alguma coisa, só podia ter feito algo errado!!! Culpada pelo quê? Já não era criança!!! Pelo contrário, bem madura do alto dos seus 36 anos, já não cometia mais as bobagens que os mais jovens cometem as vezes. Então de onde vinha esse sentimento horrível?

Sem opção e com uma certa curiosidade sobre o motivo pelo qual a dona da academia bradava seu nome, desceu as escadas, com o habitual sorriso no rosto e com uma ponta de cinismo disse: oi, me chamou? Embora até quem estivesse no bairro vizinho pudesse ter escutado!

E iniciou-se o diálogo:

– Oi, chamei sim! Gostaria de agradecer.

– Agradecer? Agradecer porquê?

– Você divulgou nossa promoção de Páscoa nas redes sociais, não tínhamos pensado nisso.

– Ah! É isso? De nada, não precisa agradecer.

Passado o alívio, veio a reflexão. Agira com puro preconceito, mas que nasceu das inúmeras brigas, discussões, puxões de orelha e demissões que havia presenciado ou tomado conhecimento, protagonizadas pela chefe. Agora estava claro porque alguns colegas trocavam de emprego, mesmo que fosse para ganhar menos.

E pensou: que tipo de chefe era aquela que conseguia gerar um sentimento tão ruim, apenas por chamar pelo funcionário? Que tipo de chefe era aquela que fazia com que o funcionário desacreditasse no seu profissionalismo? Era o tipo de chefe que não importa quão boa e positiva fosse a sua intenção a primeira impressão era sempre de que algo não ia bem. Era o tipo de chefe que desagrega. Era o tipo de chefe nunca serviria de espelho para ela.

Bem ali, naquele momento, nasceu a certeza de que não importa que tipo de chefe fosse  aquela, não era o tipo de chefe que gostaria de ter e quanto maior a distância mantivesse dela, melhor. E assim foi feito.

Publicado originalmente em 21/10/2013

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