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Fratura, luxação, torção, contusão. Qual a diferença?

Fratura, luxação, torção, contusão, lesões que causam muita confusão! Já dizia meu professor de Biomecânica que as lesões não fazem parte do esporte, do exercício, elas são fruto de duas situações: acidentes ou falhas na preparação física do indivíduo.

O fato é que independente da causa, fratura, luxação, torção e contusão acontecem com a mesma frequência que são mal compreendidas e têm seus nomes misturados o que leva, algumas vezes, a darmos menos importância à um determinado tipo de lesão do que aquele que realmente merece.

Antes de entrar nos detalhes de cada uma dessas lesões preciso esclarecer que os tecidos, em condições normais, são bastante resistentes. Eles irão se romper quando com maior ou menor gravidade quando são submetidos à alguma força que está além da sua capacidade fisiológica ou quando por algum motivo estão com sua resistência diminuída. Médicos, Fisioterapeutas e Profissionais de Educação Física estudam a resistência dos tecidos e que existem inúmeras pesquisa que tratam do assunto.

Fratura, luxação, torção, contusão. Vamos entender cada uma das lesões.

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A Dra. Ana Paula Simões*, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, é especializada no assunto e explica de forma bastante didática cada um desses tipos de lesão e eu vou reproduzir algumas partes do seu texto, acrescidos de outras explicações, para facilitar ainda mais a compreensão.

O que é fratura

Quando o osso está quebrado ou partido de forma total ou parcial, ocorre quando há uma perda da continuidade óssea. 

Existem fraturas de diversos tipos que variam conforme a característica do osso quebrado, ela pode ser estável ou instável, aberta ou fechada, completa ou incompleta, por estresse e cominuta.

As fraturas acontecem quando o osso é submetido à uma força maior do que a sua capacidade elástica. Acredite, os ossos, mesmo sendo rígidos apresentam uma certa flexibilidade, esse é um dos pontos estudados pelos profissionais quando se trata de resistência de tecidos.

O diagnóstico da fratura é feito, na maioria das vezes, por RaioX, mas há casos em que outros exames são necessários para a confirmação. Eu tive uma fratura por estresse na coluna e o RaioX não apresentava nada, fiz exames de cintilografia óssea e tomografia computadorizada, que permitiram confirmar a suspeita do médico.

O tratamento da fratura varia conforme a gravidade e localização, e geralmente precisam de imobilização seja com gesso ou algum tipo de órtese, casos graves precisam da colocação de placas, parafusos ( algumas vezes externos) e claro que nesses casos a recuperação será mais longa e pode variar de semanas a meses.

Manter os ossos saudáveis podem ajudar a evitar fraturas, pois quanto mais fortes eles forem maior será a resistência do seu tecido. O exercício é um grande aliado na manutenção de ossos saudável, falei sobre isso no texto: Osteoporose e Exercício.

O que é luxação

Quem nunca ouviu: ah, foi só uma luxação! Essa lesão que muitas pessoas tomam como menos grave, muitas vezes por ser confundida com uma contusão, é por vezes pior do que uma fratura

A luxação é uma lesão que faz com que as extremidades dos seus ossos não se posicionem dentro de uma articulação.  Usando um termo antigo, mas popular e que ajuda a entender, seu osso “destronca”. Fica assim, penduradinho… As luxações comuns incluem tornozelos, joelhos, ombros, quadris, cotovelos, dedos e até mesmo sua mandíbula.

A luxação é geralmente muito dolorosa e também pode causar danos adicionais aos nervos ou tendões se não for reduzida imediatamente (colocadas no lugar). Os sintomas de um osso deslocado podem incluir inchaço, hematomas e dor. Quando ocorre uma luxação, muitas vezes você poderá ver o osso “fora de lugar”.

O tratamento de deslocamento pode incluir o reposicionamento do osso na articulação, uma receita para analgésicos ou antiinflamatórios, uma tipoia, órtese ou uma tala e possível tratamento de reabilitação. Se a sua luxação for grave, pode demorar mais do que as duas ou três semanas habituais para retornar ao movimento completo.

Depois de ”deslocar” um osso, no entanto, tenha cuidado, pois esse osso é mais propenso a deslocamentos no futuro. Muitos atletas que deslocam joelhos ou tornozelos podem usar suportes especiais ou faixas elásticas no futuro para evitar recidivas.

Uma das partes do corpo mais propensas à luxação são os ombros. A articulação do ombro (glenoumeral) não tem um encaixe “perfeito” como o quadril. Essa é uma característica anatômica dessa articulação. Geralmente, depois do período de reabilitação recomenda-se o fortalecimento muscular para diminuir a chance de acontecer novamente, mas em alguns casos a cirurgia é necessária. Falo disso no vídeo Lesão no Ombro e exercício para o manguito rotador.

O que é entorse e estiramento?

Entorse e estiramento são o alongamento excessivo do ligamento e do tendão. Entorse quando essa lesão é dos ligamentos e estiramento quando é do tendão.
Tanto um estiramento como uma entorse são geralmente lesões menos graves que fraturas ou luxações.  No entanto podem necessitar de procedimento cirúrgico quando estão muito danificados e quando ocorre um rompimento total das estruturas.

O tratamento usual depois de ter avaliado é o P.R.I.C.E. (proteção, repouso, gelo, compressão e elevação). Com cuidado e diagnóstico adequados, o processo inflamatório deve se dissipar em algumas semanas, deixando-o bom para voltar às atividades normais.

O que é contusão?

É quando você sofre um trauma direto e não lesiona nenhuma estrutura motora, apenas partes moles que podem simular qualquer lesão acima com calor, rubor, edema e dor, mas sem gravidade. Por exemplo, você dá uma forte pancada com a perna, fica dolorido, inchado, roxo, mas quando é examinado pelo médico descobre que não há fratura, nem luxação, nem entorse ou estiramento. Ou seja, assim que estiver cicatrizada e a dor passar é possível retornar rapidamente às atividades.

Em qualquer lesão é importante procurar um médico.

Nas lesões mais graves, devido às condições e principalmente à dor, é comum buscar a ajuda de um médico, mas isso não ocorre quando achamos que “não foi nada”. Ou ainda buscamos ajuda no Pronto Socorro e com a melhora da dor deixamos de procurar um especialista para acompanhar.

Esse tipo de comportamento pode levar ao agravamento da lesão e até à outros tipos de problemas, que podem se tornar crônicos e dar muito mais trabalho para tratar posteriormente. Sou exemplo disso, sofri inúmeras torções no tornozelo, de perder a conta. Devo ter buscado um pronto socorro, duas vezes na vida. O resultado dessa falta de cuidado e atenção veio há alguns anos na forma de uma artrose. Se poderíamos ter evitado a artrose tendo mais atenção? Não sei, mas acredito que poderia ter demorado mais para se manifestar.

Meu filho também, no caso dele, a lesão era mais grave, luxação do ombro. Como faziam a redução, o ombro voltava para o lugar e a dor sumia, ele não buscava ajuda. Depois de sofrer muito, com sucessivos deslocamentos, sempre muito doloridos, decidiu buscar um médico. O caso dele era cirúrgico, não por ter agravado o problema, mas por uma característica da sua lesão. Poderia ter sofrido menos e operado antes.

Cada um dos tecidos do nosso corpo precisa de um tempo para se recuperar. Algumas vezes, como no caso de tendões e ligamentos, a dor não existe mais, mas a estrutura ainda não está totalmente recuperada. Ao expor essa estrutura à determinadas forças, antes do tempo, pode levar à uma nova lesão, mais grave. O tempo de recuperação depende de diversos fatores e apenas um médico pode oferecer essa estimativa, por isso não se engane, se lesionou, consulte um médico. Se você for atleta ou praticante de alguma atividade física, dê preferência por um médico que tenha dentre suas especialidades a medicina do esporte.

*Ana Paula Simões é Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.

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