Nas últimas semanas pipocaram nas redes sociais o desafio de publicar uma foto sem maquiagem e sem filtro. Trata-se de uma campanha da escritora Robin Rice com a proposta de questionar padrões de beleza, mas que acabou tomando outros rumos. Muitas pessoas publicaram a foto sem nem imaginar o motivo, os comentários dos mais diversos, era gente com vergonha, gente criticando a aparência dos outros, teve até quem pagasse maquiagem para a amiga só para não “ter” que publicar a foto, uma loucura!
Loucura mesmo, no sentido literal da palavra, as pessoas estão loucas, obsecadas por um determinado padrão que se estabeleceu como sendo bonito, mais do que isso um padrão de beleza que passa a ser o determinante em tudo mais que irá acontecer na vida dessa pessoa. Do sucesso profissional, ao pessoal. Se você está no padrão é um vencedor, se não está, está fadado ao fracasso. A felicidade das pessoas passa a girar em torno disso, o que é totalmente insano, doentio.
Campanhas nessa direção, não são novidade. Há pelo menos 8 anos a marca Dove faz campanhas com foco no assunto, mas infelizmente tem sido insuficiente, pois a maior parte do que aparece na mídia, em forma de publicidade ou não, só reforça e reafirma a existência de um padrão do que é belo. Essa é uma das críticas feita por Robin Rice.
A ditadura do corpo perfeito e a felicidade
Para quem trabalha em academia essa corrida está no dia a dia, o que é péssimo pois deveríamos trabalhar com a saúde e o que vemos, na maioria das vezes, passa longe disso, é a ditadura do corpo perfeito. Para quem duvida, convido a entrar em uma academia, no horário de pico, e olhar ao redor.
Passamos da era do fitness para a do wellness e na prática não saímos do lugar, as pessoas continuam obsecadas por serem mais magras e/ou mais fortes, custe o que custar. O exemplo, muitas vezes parte do próprio profissional. Ou ainda mais terrível, parte da academia que só contrata profissionais com esse perfil. Quantos profissionais que estão fora do padrão “corpo perfeito”, trabalham na academia que você frequenta?
Não estou aqui para dizer que devemos acordar e sair de pijama, descabelados e com o rosto por lavar, ou que as academias só irão contratar quem não cuida da aparência, para fugir desse estereótipo. Não há mal nenhum em cuidar da aparência, em cuidar do corpo. Não há mal em pintar o cabelo, fazer maquiagem, passar cremes ou fazer musculação. O problema está quando começamos a sofrer por essas coisas ou pela falta delas. O problema está quando começamos a achar que seremos muito melhores quando conseguirmos perder aqueles dois quilos (eternos) que faltam ou que só iremos conseguir o emprego dos sonhos, o amor de nossas vidas quando conseguirmos nos parecer com alguém que nós não somos.
Dicas saudáveis para quem frequenta academia
- Não se preocupe com seu peso ou suas medidas. São os exames médicos que irão dizer se você está saudável ou não.
- Faça exercícios para melhorar a sua qualidade de vida e não porque estão na moda ou gastam mais calorias do que outros.
- O ideal é fazer uma atividade que fortaleça os músculos, uma atividade que melhore seu condicionamneto cardiorespiratório e uma atividade que melhore sua flexibilidade. Não necessariamente tudo no mesmo dia!
- Melhor pouco exercício do que nenhum exercício.
- Faça aquilo que lhe dá prazer.
- Não se compare aos outros, se compare a você mesmo.
- Suplementos não fazem mágica.
- Dê preferência por alimentos naturais e saudáveis, mas não precisa ser xiita. Pizza, hamburguer, de vez em quando, não serão os responsáveis pelos quilos a mais, mas podem significar em enorme sorriso no seu rosto!
Fui mais magra, menos saudável e também mais infeliz
Já fui obsecada pela minha aparência e não tinha ideia de como isso me fazia mal. Sabe o que é pior, era aplaudida por amigos, alunos e pela família. Todos reforçavam minhas atitudes, que nem eram tão ruins assim, mas estavam longe do que podemos chamar de saudável.
Todas as vezes que me olhava no espelho, eu disse todas, achava que era preciso emagrecer um pouco mais. Era comum trocar de roupa inúmeras vezes, pois me achava gorda para usá-las, porque elas marcavam meus “pneuzinhos”. Nessa época eu pesava 55kg, cheguei aos 53kg, usava manequim 36! A próxima vez que entrar em uma loja de departamento, pegue uma calça 36 e olhe para a cintura, parece roupa de criança…
Já deixei de sair para me divertir pois não tinha feito as unhas naquela semana. Já entrei em uma loja, desesperada para comprar um rímel, pois havia esquecido o meu em casa, foi o rímel mais caro da minha vida, mas eu não podia passar o dia sem rímel!!! Batons, perdi a conta de quantos foram comprados, pelo mesmo motivo. Tinha muito mais roupas do que poderiam caber no meu armário, roupa de academia dava para ficar quase um mês sem lavar…
Com os exercícios, consegui, algumas façanhas. Além do corpo “quase” perfeito (porque nunca estava como eu gostaria que estivesse), tive algumas lesões sérias. Contraturas de músculos profundos, doloridíssimas, torções, distensões… A pior, uma fratura por stress na coluna. Presente que me dei ao fazer mais de oito horas diárias de exercício, entre as aulas que eu ministrava (e fazia junto) e meu treino de musculação e ginástica olímpica, durante meses.
Tudo isso, acredite, é muito pouco perto do que algumas pessoas passam. Eu não fazia sacrifícios alimentares, há quem pare de comer, eu nunca tive depressão, mas há quem tenha adoecido ao ponto de cometer suicídio, por não alcançar padrões inalcansáveis.
Nem sei como saí desse ciclo, meu valores foram mudando, mas o fato é que hoje estou longe da casa dos 50kg, faço maquiagem só quando tenho algum compromisso, continuo usando cremes, pintando o cabelo, mas sem sofrimento. Cuido do meu corpo, da minha aparência, da minha saúde sem me estressar com isso. E o resultado veio na forma de uma qualidade de vida que nunca tive antes.
Não fui desafiada, mas se fosse, não publicaria minha foto, pediria apenas que olhasse a que uso no meu perfil: no make, no filter, but so happy, every day. #StopTheBeautyMadness