Uma das aulas mais cheias e concorridas nas academia nos anos 1990 e 2000 era a Aula de Abdominal. Com 30 minutos de duração, atraiam homens e mulheres em busca de uma barriguinha sarada, de preferência “tanquinho”, mas será que realmente esse tipo de aula dá resultado?
Em uma aula de abdomianl, descontando o tempo do aquecimento e da volta a
calma, usando uma música de aproximadamente 130 bpm, é possível fazer cerca de 1700 flexões de tronco, se trabalharmos na velocidade da música. Ou seja, 1700 abdominais! É bastante coisa…mas será que funciona?
Aula de abdominal realmente funciona?
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A musculatura esquelética é fisiologicamente igual em qualquer parte do corpo, isso significa que responde ao exercício da mesma forma.
Agora pense comigo: vamos exercitar o bíceps. Vamos pensar apenas nos exercícios em que ele trabalha como agonista primário (principal responsável pelo movimento) em um treino para nível intermediário/avançado, cujo objetivo é hipertrofia. Para facilitar os cálculos todas as séries terão a mesma quantidade de repetições.
Ficamos assim:
- 2 exercícios com 3 séries de 10 repetições = 60 repetições
- 1 exercício com 4 séries de 10 repetições = 40
- Total de repetições para o bíceps = 100
Se o bíceps precisa de 100 repetições para se desenvolver, porque o abdômen precisaria de 1700?
Agora você deve estar falando assim: Ah, mas os objetivos são diferentes, na aula de abdominal treina-se resistência e o exemplo do bíceps foi hipertrofia.
Ok! Está certo, então vamos ao treino de bíceps para resistência, nível intermediário.
- 2 exercícios com 3 séries de 15 repetições = 90
- 1 exercício com 3 séries de 20 repetições = 60
- Total de repetições para bíceps = 140
Ainda assim representa menos de 10% da quantidade feita na aula.
Se todos os músculos respondem da mesma forma e precisamos de pouco mais de 100 movimentos para fortalecê-los, porque a aula de abdominal existe?
- Porque a procura é grande. Se minha academia não oferece, mas a do vizinho sim, perco os alunos. Mas esse cenário mudou bastante.
- Porque abdominais são considerados chatos pela maioria dos alunos, fazer em grupo é mais divertido.
- Porque há uma cultura de que quanto mais abdominais fizermos, melhor.
Se não precisamos de tantos abdominais, fazê-los nessa quantidade traz algum prejuízo?
A fadiga gerada em uma aula com tantas repetições para um mesmo músculo pode prejudicar a execução do movimento. Um movimento mal executado pode levar à lesões musculares e articulares.
Iniciantes não conseguem acompanhar a aula. Com poucos minutos os ombros não saem mais do chão e a sobrecarga no na cervical é grande, gerando dores no pescoço.
E então, essa aula funciona?
Para alguns pode até funcionar, mas essa não é a questão, é uma aula desnecessária.
Se você pode conseguir os mesmos resultados fazendo menos de 10% dos movimentos, em poucos minutos, porque vai ficar sofrendo durante 30 minutos?
Agora chegou a hora de você falar:
– Na aula eu sinto pegar, quando faço meu treino não.
Eu eu digo:
– Reveja seu treino, com certeza não é a aula de abdominal que é boa, seu treino é que está ruim!
Um dos maiores desafios para os professores é escolher um exercício abdominal que se adeque ao aluno. Com os outros exercícios basta manipular com a carga, nos abdominais é preciso uma boa dose de conhecimento de biomecânica para tornar o exercício mais pesado.
Eu dei aulas de abdominal, pois precisamos dançar conforme a música, mas todos os meus alunos sabem que ela é desnecessária e aproveito para ensiná-los como tornar os abdominais mais desafiadores. Minha esperança é que aos poucos as pessoas aprendam e desistam dessa aula e isso de fato vem acontecendo, assim, quem sabe um dia desapareçam das academias.
Texto originalmente publicado em 11 de dezembro de 2010