Há alguns dias, meu amigo Thiago Panda levantou no seu perfil do Facebook a questão: “Como devem estar se sentindo os profissionais que atuam com musculação, sabendo que dentro do recinto de atuação existem diversos alunos/clientes treinando com treinos prontos vindo de aplicativos?” e mais “Professor, você realmente vai perder espaço para a inteligência artificial?”. Lá ele pede para alguns profissionais darem suas opiniões. Mais tarde, em uma transmissão ao vivo ele solta o verbo, explica o que o levou a falar sobre o assunto e desce o pau nos professores. Com razão.
Se você é Personal Trainer e ainda não conhece o Panda, precisa conhecer. Figura única, que tem como objetivo profissional de vida, melhorar a Educação Física, e escolheu como ferramenta para isso o Personal Trainer. Em pouco tempo centenas de profissionais que tiveram a oportunidade de ao menos ouvi-lo, mudaram suas vidas e consequentemente a de seus alunos.
Personal Trainer X Aplicativos
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O que está acontecendo hoje, não é novidade. Apenas temos mais tecnologia do que no passado. As coisas evoluem e certamente se não nos adaptarmos, se não formos criativos, se tico e teco se acomodarem e não fizerem as sinapses necessárias, seremos engolidos.
Não acredito que a Educação Física venha a desaparecer como profissão como preconizam alguns e como deve ocorrer com outras profissões, mas é possível que algumas funções desapareçam, assim como outras devam surgir. O próprio Personal Trainer é relativamente novo, o termo começa a aparecer em meados dos anos 80, embora o conceito de alguém que dê aulas particulares de atividades físicas seja anterior, com registros nos idos de 1950.
A procura pelo Personal Trainer aumentou justamente porque as pessoas não aguentavam ir para a academia e ter um atendimento meia boca e um treino que não dava resultado. Os profissionais perceberam isso, perceberam que podiam ganhar muito mais trabalhando como Personal e de repente houve um boom no mercado, todo mundo virou Personal Trainer, da noite para o dia. Com o aumento da oferta os valores das aulas caíram e a qualidade também, pois o profissional que deveria fazer um atendimento personalizado, passou a atender mais gente para poder pagar as contas e voltamos a ter o atendimento meia boca e treinos que não davam resultado, só que dessa vez com o Personal Trainer! Convenhamos que para o cliente, pagar por isso não faz o menor sentido.
A tecnologia avança e surgem aplicativos que fazem o mesmo que o professor de sala fazia e que o Personal Trainer passou a fazer. O cliente tem essa percepção e vai trocar o profissional pela inteligência artificial, que nesse momento se mostra uma opção bem melhor do que muitos coleguinhas por aí, já que paralelo à isso houve uma queda na qualidade técnica dos profissionais.
O que nos difere da máquina?
Se os aplicativos fazem o que nós fazemos o que nos difere dele é a nossa capacidade de adaptação e a nossa capacidade criativa. Respondendo aos questionamentos do Panda, não acho que vamos perder espaço para a inteligência artificial e não vejo com espanto que pessoas usem os aplicativos com treinos prontos na academia, embora concorde com ele em muitos aspectos. Essas são as mesmas pessoas que treinavam com o recorte de revista na mão ou com um treino comprado. Esse mercado não é novo! Novo é o aplicativo, e bem mais prático.
Há quem prefira usar desses recursos, e se estamos falando de uma pessoas saudável e com vivência na atividade, ela não precisa da presença de um professor para montar o treino. Ela pode ir à uma academia que tenha um totem e imprimir o treino ou pode usar um aplicativo no celular, e ainda pode usar um pen drive com os dados para regular a máquina ou a conexão via Bluetooth, apenas informando dados básicos. Será um treino “receita de bolo”, mas a tendência é que esse tipo de aplicação seja cada vez mais assertivo na prescrição, a medida que a tecnologia avança, e que recursos como big data são melhor aproveitados, isso é fato. E desejável que aconteça.
Sim desejável, pois a medida que facilitamos o acesso à atividade física, ao exercício, aumentamos a base de clientes em potencial. Como aproveitar essa base maior é a questão e aí entram as habilidades interpessoais do profissional de educação física, a capacidade de adaptação e a criatividade. Aí que entra a história de agregar valor ao serviço prestado.
Eu amo fazer aula de ginástica, aula coletiva. Trabalhei muito tempo como professora, mas sempre gostei de fazer a aula dos outros. Há alguns anos uso vídeo aulas para suprir a minha necessidade. Coisa bem anos 80, coisa que a Jane Fonda eternizou, e sabe por quê? Porque não tenho um bom professor para fazer as aulas presencialmente. E não vou me deslocar quilômetros para isso.
No dia que criarem uma aula online e ao vivo, na qual eu possa interagir com o professor e com outros alunos, certamente eu pagaria para fazer, se continuasse sem a opção presencial de qualidade. Assim como eu exitem outras pessoas.
Os aplicativos não vão tirar alunos do Personal Trainer que investir nas relações interpessoais, mas podem sim tirar o emprego do professor do salão de musculação, podem fechar academias. Pelo mesmos motivos que me faz preferir usar uma vídeo aula de ginástica: qualidade e custo benefício.
Entenda por Personal Trainer aquele profissional que se dedica a compreender as necessidades individuais e os desejos do cliente para fazer a prescrição e que tem jogo de cintura e criatividade para mudar tudo no meio do caminho se for necessário. O cara que prescreve o mesmo modelo para todos, não é Personal Trainer e isso, já sabemos, que o aplicativo faz.
Da mesma forma que temos o carro de entrada, o celular de entrada, que oferecem poucos recursos, podemos ter serviços de entrada. No caso do exercício, o aplicativo passa a ser a porta de entrada para um atendimento presencial mais elaborado, com valor agregado.
Aplicativo pode ser aliado
Até agora falamos do aplicativo em que o aluno encontra treinos pré-montados ou busca aleatoriamente por exercícios, mas o Personal Trainer pode e deve fazer o uso inteligente dessa ferramenta. Existem inúmeros aplicativos no mercado que fazem a interface entre o professor e o aluno e podem ser um grande diferencial quando bem usados.
Eu acredito que dentre os objetivos do Profissional de Educação Física deva estar preparar seu aluno para que seja capaz de gerenciar e usufruir do exercício, sendo assim, se você fizer um trabalho bem feito, a médio, longo prazo o aluno não precisará da sua presença em todas as sessões. Salvo os mais carentes (carência afetiva, mesmo!), os mais indisciplinados e os grupos de risco. Para os demais, os encontros poderão ocorrer uma ou duas vezes por semana (até menos) e o restante do contato feito por meio do aplicativo e outras ferramentas digitais.
Dessa forma o profissional conseguirá atender um número maior de pessoas, sem comprometer a qualidade do seu atendimento, bem como os resultados. Mas isso também vai depender da sua capacidade de organização, atender os clientes de forma remota não significa trabalhar menos!
Com o uso bem estruturado de aplicativos o Personal Trainer poderá:
- Atender seus clientes durante as férias dele;
- Manter seus clientes com treinos atualizados durante as suas férias;
- Atender clientes menos vezes presencialmente, o que permite captar clientes de regiões mais distantes. Em grandes cidades como São Paulo, isso é fundamental.
- Atender clientes que não gostam da presença constante de um professor. Cada vez mais comum nas gerações mais novas.
Isso pensando apenas nos recursos disponíveis com a tecnologia que existe hoje e só pensando no recurso de montagem de treinos. Um aplicativo oferece outros recursos, tais como gerenciar objetivos dos clientes, gerenciar pagamentos, complementar o trabalho de marketing.
Não podemos ir contra a tecnologia, mas podemos ir ao encontro dela. O ser humano é eminentemente social, não vive isolado. Mas em um mundo cada vez mais competitivo no qual o tempo é moeda cara e rara, ele fará de tudo para poupá-lo para poder se relacionar com quem realmente importa. O profissional que investir em melhorar sua inteligência interpessoal certamente saíra ganhando. Essa será a chave para o sucesso profissional das próximas gerações.
Ola tudo bem? Post antigo e não sei se sera respondido. Enfim, sou de T.I. e gostei muito (muito mesmo) de sua visão sobre IA, big data e uso da tecnologia no geral. Parabens de verdade porque não são muitas as pessoas que tem essa noção sobre as modernidades e suas oportunidades.
Aproveito para perguntar também pois fiquei duvida. Estou pennsando em me matricular na smartfit, após muito tempo fazendo treinos mas academias tradicionais (nunca com personal). Tive sorte de ter professores e professsoras que passavam treinos muito adequados e que me davam resultados, e alem de tudo me davam boa . nao tenho medo de seguir sozinho, porém o treino “feijão com arroz” me deixa preocupado. Gosto da pessoa que me ouve e pense em algo pertinente à minha necessidade. Por exemplo, a sempre dificuldade de desenvolvimento de bíceps, ou peito. Ou um acúmulo rapido de gordura infra abdominal. E a perda rapida de massa magra bem como seu ganho rápido.
Voce acha que esses aplicativos são capazes de suprir essa necessidade? Que a maioria dos meus treinos ao longo da vida foram na verdade receitas de bolo e eu apenas nao sabia? Estou com certo receio.
Muito obrigado
Oi Ramon,
Já existem aplicativos muito bons, que vão até um pouco além do “feijão com arroz”, mas que ainda não conseguem atender algumas necessidade. Você, sendo da área de TI sabe que para que IA tenha um bom desempenho, é necessário uma retro alimentação com infos do próprio usuário, alguns aplicativos deixam a desejar, nesse quesito.
Uma boa solução é buscar por aplicativos cuja versões pagas você tenha o suporte de um profissional.
Abraços
Profa.Esp. Denise Carceroni