O filme A Baleia dirigido por Darren Aronofski e estrelado por Brandon Fraser, e que já tem três indicações ao Oscar (melhor ator, melhor atriz coadjuvante e melhor maquiagem), mal chegou ao Brasil e já tem repercutido entre profissionais de saúde e ativistas por conta de questões relacionadas à Gordofobia. (fique tranquilo, não darei spoiler sobre o filme OK!)
É claro que, em um filme cujo personagem principal pesa quase 300kg essa questão esteja presente, já que faz parte do cotidiano das pessoas que se encontram “acima do peso”. Coloquei assim entre aspas mesmo, porque essa poderia ser outra discussão: o que é acima do peso?
No entanto as críticas não são sobre isso. Elas giram em torno de outras questões como a escolha de um ator que não representa as pessoas gordas, como a obesidade é retratada no filme e até o título, que na verdade se refere ao livro Moby Dick, e só compreendemos sua relação com o filme nas últimas cenas. Um enorme equívoco. A gordofobia está presente, em outro lugar e ninguém percebeu, mas eu percebi e estou aqui pra te contar.
“A Baleia” tem personagens com alta complexidade emocional
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Academia: Gordo não entra!
A Baleia, não é uma história inédita, é a adaptação para o cinema de uma peça, de mesmo nome, cujo autor foi chamado para ser o roteirista do filme: Samuel D. Hunter.
O filme é dirigido por Darren Aronofski, que dirigiu Réquiem, Cisne Negro, Pi, dentre outros. Seus filmes sempre tem um peso emocional grande e em A Baleia, não é diferente. Não é filme pra todo mundo, quem se perde nas imagens pode sair bastante pra baixo do cinema, quase deprimido.
A Baleia acontece em um ambiente fechado, escuro, praticamente inteiro na sala da casa do Charlie, personagem principal feito por Brandon Fraser e que concorre ao Oscar de Melhor Ator. O que ajuda a dar esse ar depressivo para as cenas.
Charlie é um professor universitário de literatura e redação criativa, com obesidade mórbida e muitos problemas de saúde, o pior deles uma insuficiência cardíaca congestiva. Ele ministra as aulas online, sempre com a câmera fechada, já que acredita que os alunos só prestarão atenção no seu tamanho, no seu corpo gordo. Guarde esse informação ela é importante!
Existe outra questão que importuna Charlie, sua opção sexual. Ele é homossexual e se sente culpado por suas escolhas. Aliás a homofobia tem um peso muito maior do que a gordofobia, na minha opinião. Além disso percebi que a culpa é ponto em comum à todos os personagens. Todos em certa medida e por motivos diversos têm suas questões por se sentirem culpados.
O ganho de peso de Charlie acontece por isso, ele se sente culpado, e manter-se obeso é a maneira que encontra de se punir e também de resolver seus problemas já que sua vida está por um fio e ele sequer permite que as pessoas o ajudem. Ele tem foco na meta: dar cabo da vida. Se ele consegue ou não, você terá que assistir ao filme!
Foi nesse momento que percebi que as questões relacionadas ao comportamento de Charlie poderiam ser trocados por outro comportamento destrutivo como o alcoolismo, o vício em drogas ou qualquer atividade que colocasse em risco sua integridade física. Portanto não é um filme sobre obesidade, sobre comportamento gordofóbico, vai muito além disso.
Onde está a gordofobia no filme a Baleia?
Ainda assim a gordofobia está presente no filme, de uma maneira forte, implacável, desde o início. Ela aparece no espectador! Somos nós quando assistimos ao filme que, ainda que dentro de nossas mentes, nos comportamos de forma gordofóbica.
Alguns parágrafos acima eu pedi para você guardar uma informação sobre Charlie, lembra? Vou repetir aqui: “Ele ministra as aulas online, sempre com a câmera fechada, já que acredita que os alunos só prestarão atenção no seu tamanho, no seu corpo gordo.”
E é justamente isso que fazemos. O corpo gordo de Charlie e tudo mais que envolve isso, como sua dificuldade de locomoção, a casa bagunçada, a sensação de sujeira, traz um olhar gordofóbico para o espectador. Nos faz prestar atenção apenas ao corpo dele. Um olhar que culpa Charlie pela incapacidade de emagrecer, como se a questão fosse simples e não envolvesse todos os outros aspectos emocionais mostrados no filme e que muita gente sequer percebe.
Um pedido à você
Quando encontrar com uma pessoa gorda, tente não olhar para corpo, tente perceber que atrás daquela gordura existe uma pessoa. Um ser humano como você, com uma carga emocional, com problemas que não diferem dos seus. Uma pessoa que precisa de ajuda.
Você não sabe o que fez aquela pessoa engordar, quais doenças ela carrega em função disso. Quais as dificuldades de ordem física e emocional que ela enfrenta para emagrecer e, inclusive, se esse é o desejo dela.
Ao invés de julgá-la, estenda a mão e esteja apenas disponível.