Você pode nunca ter ouvido falar em ortorexia, mas é possível que conheça alguém que sofra desse problema, que é cada vez mais comum. A ortorexia é a obsessão por comida saudável. E não estou falando simplesmente daquelas pessoas que fazem questão de consumir alimentos mais saudáveis, pois na verdade esse é o comportamento que todos deveríamos ter, mas daquelas pessoas que levam essa preocupação tão a sério que se torna compulsivo e acaba trazendo mais consequências ruins do que boas.
“Gastar muito tempo com pesquisas e preparo de comidas ou mesmo em atividades físicas, causando prejuízo às relações familiares e corporativas, são os principais sintomas desse distúrbio”, pontua a endocrinologista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, Vivian Estefan.
O excesso de informação sobre “comidas saudáveis” que temos disponíveis por meio de sites, blogs e redes sociais, pode levar as pessoas a desenvolver um comportamento prejudicial. E esse é apontado como o maior motivo dos crescimento de pessoas com ortorexia, no mundo. Certamente é possível se alimentar de forma saudável sem perder o prazer de comer e sem sofrimento, mas não é isso que ocorre com essas pessoas.
O termo foi criado em 1997 pelo médico americano Steven Bratman, aliando a palavra para “correto” ─ do grego orthos ─ com “apetite” ─ orexis. Apesar de ainda não ser reconhecida como doença, a Ortorexia atingia em 2014 cerca de 28% da população ocidental, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Como identificar a ortorexia
Dificilmente uma pessoa que sofra de ortorexia, consegue perceber o distúrbio e pedir ajuda sozinha, em geral são encaminhadas para tratamento por parentes que acreditam ter “alguma coisa errada” na forma dessa pessoa se alimentar, mas que também não conseguem explicar muito bem o que poderia ser, uma vez que a opção é por alimentos saudáveis. Portanto trata-se de um distúrbio que vem disfarçado de boa prática.
Visto pelos médicos como um distúrbio alimentar, a Ortorexia faz com que o paciente passe a se preocupar exclusivamente com a composição química e valor calórico dos alimentos, ou seja, o teor de proteínas, carboidratos, lipídeos, vitaminas e sais minerais, não se permitindo nunca uma variação de cardápio, nem mesmo em festas e encontros sociais.
É bastante frequente que pessoas que tenham sofrido com anorexia e bulimia, desenvolvam a ortorexia acreditando que superaram o distúrbio alimentar pois estão comendo bem e de forma saudável, quando na realidade, apenas trocaram um problema pelo outro.
Os comportamentos mais comuns são:
- Sabe exatamente a composição de cada alimento que irá consumir.
- É obcecada com a forma de preparo e a composição dos alimentos.
- Se recusa a consumir alimentos com condimentos, conservantes ou corantes, muito utilizados principalmente em alimentos industrializados.
- Exclui qualquer possibilidade de ingestão de alimentos geneticamente modificados ou com agrotóxicos.
- Não come refeições preparadas por outras pessoas.
- Dá pitaco na forma como outras pessoas se alimentam e preparam a comida.
- Passa boa parte do dia pensando em nutrição.
- Se sente culpado quando come algo que julga não ser “bom”.
- Perdeu muito peso sem seguir conscientemente uma dieta.
- Deixa de frequentar festas para não correr o risco de comer comidas que não são saudáveis.
Os riscos para a saúde de quem sofre com o distúrbio alimentar da ortorexia se assemelham a de outros distúrbios mais conhecidos como a anorexia e a bulimia. E tem relação principalmente à deficiência de alguns nutrientes, levando à ter oscilações no humor, queda de cabelo, fraqueza nas unhas e doenças associadas à desnutrição, como anemia e osteopenia. A principal diferença em relação à esses outros transtornos é que não há o medo de engordar, a preocupação é exclusivamente se a comida é ou não “saudável”.
De acordo com a ABRAN – Associassão Brasileira de Nutrulogia, há relatos de casos graves com necessidade de internação e em 2006 foi publicado um caso com uma restrição alimentar que provocou o início de um quadro psicótico, esquizofrênico.
Dá mesma forma que o transtorno não começa do dia para noite, seu tratamento também não surtirá efeito imediato. A pessoa que sofre com a ortorexia não vai deixar de ter determinados comportamentos da noite para o dia. O ideal é buscar ajuda médica, até mesmo para entender os motivos que levaram a desenvolver esse comportamento. O ideal é que o tratamento seja feito por uma equipe multidisciplinar composta por nutrólogo, psiquiatra, psicólogo e nutricionista.