A ideia de escrever sobre o tema surgiu depois de ser questionada sobre como deve ser uma boa aula de ginástica, como saber se o professor é bom ou ruim. Existem parâmetros que servem, inclusive para alunos, tirarem algumas conclusões.
O primeiro parâmetro tem relação com a sua formação. E não estou me referindo somente à faculdade. Claro que ter feito uma boa Faculdade de Educação Física (critério obrigatório para dar aula de ginástica), ajuda muito, mas não é uma condição definitiva. Um bom aluno, de um curso mediano, mas que é dedicado e empenhado em buscar o conhecimento fora da faculdade, pode se tornar um excelente profissional. Inclusive por que são raras as faculdades que ensinam a dar aula de ginástica de academia. E é justamente essa busca, fora o que se aprendeu na graduação, que faz diferença.
Atualização é essencial para dar uma boa aula de ginástica
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Em qualquer profissão, atualizar-se é essencial. Mesmo que estejamos falando de um profissional com título de Doutor.
Fazer uma pós-graduação pode ser interessante para que possamos direcionar os olhos e aprofundar o conhecimento em uma área de estudo específica, mesmo assim, com o passar do tempo, o conhecimento muda, novas pesquisas são feitas, surgem novas tecnologias que permitem transformar teorias em fatos, que derrubam achados feitos no passado e que podem afetar completamente a atuação profissional. Portanto atualizações mais frequentes são necessárias.
Elas podem acontecer por meio de cursos de extensão universitária, participação em congressos, participação em palestras, leitura de revistas científicas, por exemplo. Nem a desculpa de que estamos distantes de grandes centros que oferecem essas forma de se atualizar, pode ser usada, pois muitos desses são oferecidos no formato EAD (educação a distância), online, distante apenas de um clique e de vontade para aprender.
Um profissional que não se atualiza, no mínimo, uma vez por ano, com o passar do tempo será um profissional medíocre, com ideias e práticas obsoletas, em qualquer profissão. Para os profissionais que atuam em academias isso pode ser desastroso.
Esse então, é um parâmetro objetivo que pode ser descoberto em uma simples conversa e não necessita de conhecimento técnico específico da área para ser feito. Geralmente professores que se atualizam contam aos alunos sobre os cursos que estão fazendo.
No entanto quando a atualização é de uma modalidade, por exemplo, aula de ginástica localizada, aula de step, aula de jump etc, é necessário que seja presencial, devido às questões práticas envolvidas. Quando se tratam de aulas como Pilates, é preciso uma formação longa e específica. E aulas pré-coreografadas como Body Pump, Body Step, Jump Fit, Zumba, o profissional precisa passar por treinamento, provas e ter a licença para atuar com essas modalidades. São essas atualizações práticas que irão garantir uma boa aula de ginástica.
O que esperar de uma boa aula de ginástica
Essa aqui é a minha praia, atuei muitos anos nessa área. Bato o olho e sei se temos uma boa aula de ginástica, consigo identificar se temos ou não problemas ali. Mas para um profissional que não tem essa prática e mesmo um aluno que quer saber se está em boas mãos, existem alguns parâmetros que pode ser facilmente verificados.
Em qualquer aula é desejável que o professor chegue antes do horário de deixe a sala pronta (luzes acesas, som testado, ventiladores / ar ligado etc) e que receba os alunos na porta da sala. É esperado que o professor verifique se existe aluno novo, receba-o bem, pergunte sobre sua experiência e auxilie durante toda aula. E mesmo nos casos em que haja apenas um aluno, dê a aula.
Perdi a conta do número de vezes que cheguei para fazer aula, como aluna, com a sala despreparada, professor sem interesse em ministrá-la, mexendo no celular e ouvir a desculpa que não tinham alunos. Sempre me pergunto, nessas horas, o que eu sou? Um extraterrestre, talvez? E se as pessoas ficarem intimidadas de se aproximar e dizer que querem fazer a aula, como faz? No meu caso digo que não quero fazer aula sozinha, na verdade não quero fazer aula com um professor que não está com vontade de ministrá-la.
Parâmetros para uma boa aula de ginástica
Existem alguns parâmetros a serem seguidos em determinadas aulas. Eles foram concebidos para dar a cara da aula, quando o profissional foge desses parâmetros está descaracterizando a aula, criando uma outra modalidade.
Para ficar mais fácil de entender, vou usar as aulas pré-coreografadas como exemplo. Quando vamos fazer uma aula de Body Pump, sabemos que vamos usar uma barra com anilhas, que faremos quase todos os exercícios com ela, que é uma aula com muitos agachamentos e alguns outros exercícios bem característicos. Ninguém acha que irá dançar ou pedalar em uma aula de Body Pump, pois isso descaracterizaria a aula. Já quem faz Body Jam ou Zumba, sabe que vai dançar, bem como quem vai fazer aula de Jump Fit sabe que vai fazer sequências de exercícios empurrando a lona do jump.
É claro que posso usar barra com anilhas, o jump e passos de dança combinados em uma mesma aula, como por exemplo uma aula de circuito, mas aí será Circuito e não Body Pump, Jump Fit ou Zumba. É assim também que acontece com outras aulas de ginástica que não são pré-coreografadas, mas que têm parâmetros definidos que caracterizam a aula.
Vou listar abaixo alguns parâmetros que ajudam a identificar quando temos uma boa aula de ginástica
Música: Nas aulas de ginástica localizada, abdominais, step e jump a música não é mero som ambiente ela faz parte da aula. Nessas aulas deve ser usada uma playlist mixada que mantenha a mesma batida (BPM), sem interrupção de faixas, durante toda a aula. E o professor irá trabalhar dentro da frase musical (dentro das 8 batidas da música).
Materiais: Cada aula tem seus materiais característicos. Usar halteres em aula de step, jump ou bike é invenção, fruto da criatividade de um profissional que certamente desconhece as características da aula e não avalia os riscos e implicações que esse acessório pode trazer ao praticante naquele contexto.
Em aulas que usam vários materiais como as de localizada, o professor deve variar os acessórios para sair da mesmice e informar aos alunos no início da aula o que será usado. Convém que ele deixe o seu material montado para facilitar a compreensão.
Uso do equipamento: Alguns equipamentos e acessórios usados nas aulas de ginástica precisam de instruções para garantir a segurança dos alunos e a integridade dos materiais. Isso deve ser explicado à todos os alunos novos e relembrando aos antigos periodicamente. Alguns exemplos são a regulagem da bike, pisar com os pés inteiros no step, empurrar a lona do jump ao invés de saltar, descer do jump de costas.
Tipo de aula/exercício: Aulas de bike podem variar o tipo conforme o objetivo e isso deve ser informado ao aluno antes do início da aula. Os estímulos também irão variar durante a aula e o aluno também precisa ser informado quando for acontecer.
Nas aulas de ginástica localizada antes de iniciar qualquer exercício os alunos devem ser informados sobre qual grupo muscular será trabalhado, qual a sobrecarga adequada para esse grupo muscular e qual será o volume de trabalho (quantas séries e quantas repetições). Para que desta forma possa escolher a carga que irá usar em cada exercício. Isso mesmo, nas aulas de local, nada de pegar só um par de halteres e caneleira é preciso bem mais do que isso!
Equilíbrio muscular: Cabe ao professor garantir que a aula irá trabalhar de forma igual o lado direito e o lado esquerdo do corpo, fazendo os mesmos exercícios, na mesma quantidade, com as mesmas cargas, de ambos os lados. Isso é válido para as aulas de localizada, de step, de jump, de circuito de abdominais e quando possível nas de dança.
Fluidez do movimento: Nada que cause mais desconforto do que uma aula na qual mudamos de plano a todo momento, como por exemplo uma aula de ginástica localizada onde um exercício é feito sentado, o seguinte em pé e assim sucessivamente. O ideal é fazer tudo em um plano e depois passar para o outro.
Nas aulas de step, perde-se a fluidez quando é usado o TAP, um toque para a mudança de lado (troca da perna de comando). A troca do lado na aula de step é feita sempre usando movimentos que permitem essa troca naturalmente, sem usar o toque. Um exemplo é o movimento de “três joelhos”.
Já nas aulas de jump a fluidez pode ser perdida fazendo uma má combinação entre movimentos.
Professor não faz a aula. É isso mesmo, a função do professor é ensinar o exercício e estar livre para fazer as correções necessárias, fazer contagem de movimentos, controle de tempo. Então, ele demonstra o movimento e circula na sala. As exceções são apenas para aulas que dependem de coreografia, como ritmos, step, jump e parte da aula de bike. Mesmo assim é interessante que o professor faça pausas para estimular os alunos a continuarem sozinhos, isso pode tornar a aula mais divertida e desafiadora.
Aula boa não precisa doer. A dor é um sinal de que algo não vai bem, que seu corpo está se excedendo. É o sinal que seu corpo dá, para você parar. É preciso aprender a diferenciar a dor do desconforto. Exercício causa desconforto, não causa dor.
Aula boa não precisa levar à exaustão. Com raras exceções como no caso de aulas de HIIT, uma aula bem dada pode causar cansaço, mas não leva a exaustão. Ninguém deve sair passando mal ou sem conseguir andar direito de uma aula (incluindo as de HIIT), isso é sinal de que o exercício não foi bem dosado.
O que fazer quando a aula é ruim
Não tenha vergonha de chamar o coordenador da academia ou outro responsável para conversar sobre as aulas. Você precisa estar satisfeito com o serviço que está sendo prestado e merece um serviço adequado e de qualidade.
Algumas vezes pode ser um problema pontual, por exemplo, pode ser um professor substituto, um professor que está começando a carreira, o professor que pode ter sido escalado para uma aula que tenha pouca experiência. Muitas vezes, o professor foi colocado em situação de saia justa pela própria academia. E certamente o responsável tomará uma providência.
Se o professor for um profissional comprometido, não ficará ressentido, irá se atualizar, melhorar a sua técnica, para oferecer um serviço melhor. Alguns dos parâmetros de uma boa aula de ginástica, que listei farão diferença nos resultados que as aulas devem trazer para o aluno (emagrecimento, fortalecimento etc), outros dizem respeito à tornar a aula mais agradável e divertida, o que é fundamental, pois o melhor exercício é aquele que gostamos de fazer. O benefício, neste caso é para todos.